quinta-feira, 4 de abril de 2013

Gil Vicente ( A farsa de Inês Pereira / O Auto da Barca do Inferno)







 

 

 FARSA DE INÊS PEREIRA

Para baixar a obra é só clicar no link:

http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000111.pdf


A Farsa de Inês Pereira é uma peça de teatro escrita por Gil Vicente, na qual retrata a ambição de uma criada da classe média portuguesa do século XVI. Desafiado por aqueles que duvidavam do seu talento, Gil Vicente concorda em escrever uma peça que comprove o provérbio "Mais quero asno que me leve, que cavalo que me derrube". Toda a peça gira à volta da personagem principal Inês Pereira que nunca sai de cena. As rubricas são escassas, não há mudança de cenário, e a mudança de cena é só pautada pela entrada ou saída de personagens. Todas as personagens desta farsa visam a critica social, por isso são chamadas personagens tipo. 

Resumo 

As farsas, baseiam-se em temas da vida quotidiana, tendo um enredo cômico e profano. A Farsa de Inês Pereira parte de um provérbio: «mais quero asno que me leve, que cavalo que me derrube». Esta farsa censura os «homens de bom saber» que constitui uma referência direta ao público cortês. Esta era dotada de uma incontornável vertente não só dramática mas acentuadamente teatral. Inês Pereira, moça simples e casadoira mas com grande ambição procura marido que seja astuto e sedutor. A mãe de Inês, preocupada com a sua filha, sua educação e casamento, incita-a a casar com Pero Marques, pretendente arranjado pela alcoviteira Lianor Vaz, no entanto o lavrador não agrada Inês Pereira, por ser ignorante e inculto. Pero Marques, nunca viu sequer uma cadeira, e isso não deixa de provocar o riso, assim funcionando como mecanismo subliminar o autoelogio da Corte. Inês Pereira recusa-o, pois pretende alguém que demonstre alguma cortesia, alguém que, à boa maneira da Corte, saiba combater, fazer versos, cantar e dançar, alguém como Brás da Mata, o segundo pretendente, que lhe é trazido pelos Judeus Casamenteiros, um pouco menos sinceros e bem-intencionados do que Lianor Vaz. Mas Brás da Mata representa apenas o triunfo das aparências, um simulacro de elegância, boa -educação e bem-estar social, que acredita no casamento como solução para as suas dificuldades financeiras. Este casamento depressa se revela desastroso para Inês, que por tanto procurar um marido astuto acaba por casar com um, que antes de sair em missão para África, dá ordens ao seu moço que fique a vigiar Inês e que a tranque em casa de cada vez que sair à rua. Brás da Mata, era um escudeiro falido que casou com Inês de forma a poder aproveitar-se do seu dote. Três meses após a sua partida, Inês recebe a prazerosa notícia de que o seu marido foi morto por um mouro. Não tarda em querer casar de novo, e é nesse mesmo dia que Lianor Vaz traz-lhe a noticia que Pero Marques, continua casadouro, de resto como este tinha prometido a Inês quando do primeiro encontro destes. Inês casa com ele logo ali, e já no fim da história aparece um Ermitão que se torna amante da protagonista. O ditado “mais quero asno que me carregue que cavalo que me derrube”, não podia ser melhor representado do que na última cena da obra quando o marido a carrega em ombros até ao amante, e ainda canta com ela “assim são as coisas”. Trata-se, portanto, de uma sátira aos costumes da vida doméstica, jogando com o tema medieval da mulher como personificação da ignorância e da malícia. 

 Personagens 

• Inês: representa a moça casadoira, fútil, muito preguiçosa e interesseira, que se casa duas vezes, apenas para se livrar do tédio da vida de solteira. Não conseguindo casar-se na primeira tentativa, garante-se na segunda, com o marido ingênuo. Apesar de seu comportamento impróprio, consegue até mesmo a simpatia do público pela inteligência com que planeja seus passos.

 • Lianor Vaz: é a alcoviteira, mulher na época assim chamada que arrumava casamentos, revelando que a base da família está corrompida.

 • Mãe: apesar de dar conselhos à filha, acha importante que ela não fique solteira e torna-se cúmplice das atitudes dela.

 • Pero Marques: é o marido bobo mas um lavrador abastado. Apesar de ser ridicularizado por Inês, ele casa-se como ela e deixa que ela o maltrate e o traía. 

 • Escudeiro: Preocupado em encontrar uma esposa, finge, e engana, criando uma imagem de "bom moço" que depois se revela um tirano, e deixa Inês presa na sua casa mas ele é morto por um mouro.

 • Moço: era um amigo do primeiro marido de Inês, que o ajuda a mentir para se casar com ela.

 • Ermitão: era o amante de Inês que depois se torna num padre. 

 • Latão e Vidal: judeus casamenteiros. Tempo É um tempo dilatado, tendo o espectador dificuldade de se aperceber da sua passagem Cómico Encontramos, nesta farsa, cómico de situação ou de personagem em Inês, Pero Marquez e no escudeiro; de situação na cena de ‘’namoro’’ de Inês com Pero Marquez; de linguagem na carta e linguagem de Pero Marque e na fala dos judeus casamenteiros. Podemos considerar as rezas e as pragas (esconjuros) como cômico de linguagem. 

 Objetivo da crítica vicentina Gil Vicente critica: 

• A mentalidade das jovens raparigas; 

• Os escudeiros fanfarrões, galantes e pelintras; 

• A selvajaria e ingenuidade de Pero Marquez; • As alcoviteiras e os judeus casamenteiros; 

• Os casamentos por conveniência; 

 • Os clérigos e os Ermitões. Estrutura da peça Nesta farsa não existem divisões cénicas, mas é possível dividi-la em 3 atos. 
De assinalar a importância da divisão em espaço interior e exterior. 
De notar o paralelismo presente nos contrastes que Gil Vicente estabelece na construção do monólogo e diálogo inicial da peça, e no monólogo e diálogo ocorridos após a noticia da morte de Braz da Mata. 
É através destes paralelismos e contrastes que Gil Vicente expressa a mudança ocorrida com Inês. 


 Podes esquematizar os ‘’3 atos’’ da Farsa da seguinte maneira:  

Concluindo

 Desta ação pode extrair-se que de fato o que Inês mais queria, acabou por conseguir: a sua liberdade, encontrada junto de Pero Marquez. A unidade da ação é dada pelo tema e pela personagem principal, Inês Pereira. Não há dúvida de que Gil Vicente demonstrou aos contemporâneos que nele não acreditavam, e com esta peça, ser de fato, o grande criador das obras que fazia representar.