segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

A escrita Fraktur

Essa é a forma de escrita que faz parte do fundo de tela do blog: Fraktur.

A tipografia gótica e sua identidade

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A tipografia sempre esteve recheada de muito simbolismo. Em suas diversas formas estéticas está inserido a cultura um povo que representa, a filosofia e pensamento de uma instituição ou organização, e também os meios tecnológicos de reprodução de uma época.
Especificamente na tipografia gótica, ou “black letter” o simbolismo e ligação com o povo germânico fica muito mais evidente. Mesmo no início do século XX, quando a ordem era a modernidade, e a estética funcionalista começava a ditar as regras, mais tipos góticos com desenhos diferenciados eram desenvolvidos na fundições alemås e exportados para qualquer parte do mundo que tivesse algum resquício da cultura germânica. No Brasil, inúmeros livros, revistas e jornais foram impressos em tipos góticos e em alemão, especialmente no sul em em São Paulo.
Para SHAW, Paul e Peter Brain, o termo “Blackletter” se refere aos antigos tipos  Old English ou góticos. A palavra Blackletter foi utilizada para descrever a relação estética entre a escuridão dos caracteres pesados e o branco das páginas nas escrituras da idade média. Já no século VIII, quando Carlos Magno assume o reinado na europa o idioma e a expressão tipográfica alemã era visto como uma expressão popular, porém abafada pelas intenções de Carlos magno de reviver os ideais humanistas do velho mundo, expressadas na minúscula carolíngea. Uma visão estratégica do soberano que via na tipografia uma forma de identificação de seu reinado.
Com a chegada dos anos 1000, sinaliza também uma nova perspectiva para a europa. As cruzadas abrem inúmeras possibilidades comerciais com diversos locais do mundo e mais que isso se ampliam também os horizontes culturais europeus. As grandes catedrais começam a ser construídas e paralelamente também começavam as primeiras universidades, centros de efervescência cultural que fomentavam a produção de manuscritos e disseminação da cultura para todos. A influência estética da arquitetura gótica presente em diversos locais da europa, bem como a necessidade da dimunição do espaço das escrituras, que até então utilizava as amplas e arredondadas formas da minúscula carolíngea influenciaram a forma da tipografia gótica que negra, apertada e angulosa.
A primeira a ser utilizada foi a gótica Textura, termo criado devido ao aspecto de tramas fechadas. Tinha uma disposição rígida, que diferenciava uma letra de outra somente por poucos traços. A gótica Textura era considerada um tipo de uso comum na Alemanha e países do norte da europa. A bíblia de 42 linhas impressa por Gutenberg utilizava os tipos Textura em suas páginas.
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Os tipo góticos que eram comumente utilizados na Alemanha se disseminam para toda a europa ajudados pela facilidade e adaptação ao novo sistema de tipos móveis e pelos tipógrafos e gravadores germânicos que tinham o conhecimento técnico da imprensa edo novo sistema. Outros tipos Góticos como a Schwabacher ou Bastarda, considerada mais funcional e de execução mais ágil, devido a sua trajetória mais cursiva e menos rígida que a Textura, acaba se firmando com uma caligrafia popular.
A Fraktur teve certamente influência do barroco sobre sua estética que era uma fusão entre a forma da Textura e da Schwabacher. Uma das principais características eram os traços metade retos e metade curvos em sua forma. Os ornamentos nos tipos maiúsculos e nos traços ascendentes e descendentes eram uma pequena prova da influiencia barroca.
Na Itália o renascimento fez florescer o ideal clássico da tipografia romana. Mesmo com toda a força das maiúsculas romanas, a gótica chamada Rotunda teve grande expressividade na Itália. A Rotunda tinha uma ligação muito mais forte com o passado uncial, tendo em sua forma os traços mais arredondados que deixavam as letras mais amplas e legíveis, em certos casos evidente e ligação com as unciais. O caso da Itália reflete diferenças estéticas entre o norte e o sul da europa, onde essas associações ficam evidentes.
A schwabacher ou bastarda, que originalmante era restrita a documentos na região norte da europa, obtem seu status de importância na França, quando começam a ser impressos alguns livros, paralelamante também é utilizada na região da Bohêmia, Suiça e diversas regiões de predomínio germânico. A Rotunda além da Itália é também muito utilizada na Suiça.  Para SHAW, Paul e Peter Brain, esses 4 estilos de “blackletter” – Textura (gótica ), Rotunda ( semigótica), schwabacher e Fraktur, compreedem a categoria. Para TUBARO, Antonio e Ivana todas são classificadas de góticas.
A REFORMA
Quando no século XV Martin Lutero se revolta com a dominação de Roma e da influéncia papal que dominava a europa, ele estava rompendo com séculos de influência e subordinação cultural. Mais do que uma revolta contra a igreja romana, ou a eliminação de um intercessor entre o homem e Deus ele domostrava o interesse que a igreja falasse a língua de todos. Lutero introduziu a massificação germânica, traduzindo do latin para o alemão vários hinos, peças baseadas na reforma e iniciou a tradução da bíblia. Além do texto em alemão que utilizava várais palavras em dialetos específicos da Alemanha, ele também elegeu os tipos góticos para expressar suas indignações.
O IDIOMA COMO EXPRESSÃO DE UM POVO
A questão sobre a própria identidade acompanhou durante séculos a vida dos alemães. É óbvio que existem diferenças claras entre a discussão e a afirmação de uma identidade e do uso político dessas questões como forma de manipulação. Essa noção de valorização e de grandiosidade do povo alemão é expressada na frase do poeta nacionalista Ernst Moritz Arndt,  que diz “a Alemanha está onde se fala alemão”, ou seja, a grande aAlemanha incluía regiões que não eram alemãs como a Bohemia, Polônia, França, Luxemburgo, Suiça e até regiões de colonização mais longinquas como o proóprio Brasil.  Esse ponto de vista mostra certa similaridade com o próprio idioma Grego, que identificava um povo, indo além das fronteiras pré-estabelecidas.
A partir do final do século XIX as fundições alemãs aumentam consideravelmente a produção de tipos góticos com diferentes desenhos. Mesmo artistas art-nouveau  de importância como Peter Behrens e Otto Eckmann desenharam tipos baseados na Fraktur. A reafirmação da soberania do povo alemão de certa forma sempre buscou sua representação na gótica Fraktur. Foi assim quando o exército de Napoleão foi parado pelas tropas alemãs, ou na guerra franco-prussiana de 1870,  na 1 guerra mundial e por último quando Hitlet potencializoua força da tipografia Fraktur a serviço do estado totalitário nacionalista. De tempo em tempo a gótica e em especial a Fraktur foi politizada como “o tipo da Alemanha”. Alguns estudiosos acham que os nazistas acabaram tirando a vida dos tipos góticos, quando os associaram com o nazismo.
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A tipografia gótica é um dos símbolos do povo germânico e assim como ela inúmeras outras contém essa importante carga de simbolismo.  Logicamente o assunto desse artigo é inesgotável, até porque a relação do povo alemão com a tipografia gótica não acontece da noite para dia, mas é uma evolução e uma maturação que caminha por séculos e séculos, onde aspectos tecnológicos, culturais e políticos determinam sua trajetória. Porém ao mesmo se torna oportuno em um momento que cada vez mais tentamos desvendar o que cerca a construção de marcas fortes, imagens ou identidades de instituições até mesmo nações.
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TEXTURA
Característica mais pesada, de disposição extremamente rígida onde traços repetidos verticais formam as letras com poucas diferencas evidentes entre elas. A angulosidade é acentuada pela terminação em forma de diamante na parte superior.
SCHWABACHER OU BASTARDA
Tinham uma caracterîstica mais cursiva, onde era utilizada como caligrafia popular. Sua estética deriva muito da necessidade de escrita mais funcional e de execução muito mais rápida e ágil, rompendo a rígida verticalidade da Textura e suavizada com ornamentações e traços curvos.
FRAKTUR
A Fraktur é uma fusão entre a Textura e a Schwabacher, com uma influência da estética barroca, denotada pelos ornamentos aplicados às letras maiúsculas e a união entre traços retos e curvos de sua forma.
ROTUNDA
A tipografia gótica italiana tem em sua forma estética uma proximidade muito grande com os tipos unciais, devido ao aspectos mais curvo e arredondado que tornam as letras mais amplas e legíveis.
BIBLIOGRAFIA:
TUBARO, Antonio e Ivana – Tipografía – estudios e iventigaciones. Universidad de Palermo/Libreria Técnica CP67, Milão-1992
BAIN, Peter and Paul Shaw – Blackletter: Type and National Identity. The Cooper Union and Princetow Architetural Press, New York -1998
STRAUB, Ericson – A tipografia no meios editoriais de Curitiba – Dissertação de Mestrado – UFSC – PPGE-2003
via:  http://abcdesign.com.br