Essa é a forma de escrita que faz parte do fundo de tela do blog: Fraktur.
A tipografia gótica e sua identidade
A tipografia sempre esteve recheada de muito simbolismo. Em suas
diversas formas estéticas está inserido a cultura um povo que
representa, a filosofia e pensamento de uma instituição ou organização, e
também os meios tecnológicos de reprodução de uma época.
Especificamente na tipografia gótica, ou “black letter” o simbolismo e
ligação com o povo germânico fica muito mais evidente. Mesmo no início
do século XX, quando a ordem era a modernidade, e a estética
funcionalista começava a ditar as regras, mais tipos góticos com
desenhos diferenciados eram desenvolvidos na fundições alemås e
exportados para qualquer parte do mundo que tivesse algum resquício da
cultura germânica. No Brasil, inúmeros livros, revistas e jornais foram
impressos em tipos góticos e em alemão, especialmente no sul em em São
Paulo.
Para SHAW, Paul e Peter Brain, o termo “Blackletter” se refere aos
antigos tipos Old English ou góticos. A palavra Blackletter foi
utilizada para descrever a relação estética entre a escuridão dos
caracteres pesados e o branco das páginas nas escrituras da idade média.
Já no século VIII, quando Carlos Magno assume o reinado na europa o
idioma e a expressão tipográfica alemã era visto como uma expressão
popular, porém abafada pelas intenções de Carlos magno de reviver os
ideais humanistas do velho mundo, expressadas na minúscula carolíngea.
Uma visão estratégica do soberano que via na tipografia uma forma de
identificação de seu reinado.
Com a chegada dos anos 1000, sinaliza também uma nova perspectiva
para a europa. As cruzadas abrem inúmeras possibilidades comerciais com
diversos locais do mundo e mais que isso se ampliam também os horizontes
culturais europeus. As grandes catedrais começam a ser construídas e
paralelamente também começavam as primeiras universidades, centros de
efervescência cultural que fomentavam a produção de manuscritos e
disseminação da cultura para todos. A influência estética da arquitetura
gótica presente em diversos locais da europa, bem como a necessidade da
dimunição do espaço das escrituras, que até então utilizava as amplas e
arredondadas formas da minúscula carolíngea influenciaram a forma da
tipografia gótica que negra, apertada e angulosa.
A primeira a ser utilizada foi a gótica Textura, termo criado devido
ao aspecto de tramas fechadas. Tinha uma disposição rígida, que
diferenciava uma letra de outra somente por poucos traços. A gótica
Textura era considerada um tipo de uso comum na Alemanha e países do
norte da europa. A bíblia de 42 linhas impressa por Gutenberg utilizava
os tipos Textura em suas páginas.
Os tipo góticos que eram comumente
utilizados na Alemanha se disseminam para toda a europa ajudados pela
facilidade e adaptação ao novo sistema de tipos móveis e pelos
tipógrafos e gravadores germânicos que tinham o conhecimento técnico da
imprensa edo novo sistema. Outros tipos Góticos como a Schwabacher ou
Bastarda, considerada mais funcional e de execução mais ágil, devido a
sua trajetória mais cursiva e menos rígida que a Textura, acaba se
firmando com uma caligrafia popular.
A Fraktur teve certamente influência do barroco sobre sua estética
que era uma fusão entre a forma da Textura e da Schwabacher. Uma das
principais características eram os traços metade retos e metade curvos
em sua forma. Os ornamentos nos tipos maiúsculos e nos traços
ascendentes e descendentes eram uma pequena prova da influiencia
barroca.
Na Itália o renascimento fez florescer o ideal clássico da tipografia
romana. Mesmo com toda a força das maiúsculas romanas, a gótica chamada
Rotunda teve grande expressividade na Itália. A Rotunda tinha uma
ligação muito mais forte com o passado uncial, tendo em sua forma os
traços mais arredondados que deixavam as letras mais amplas e legíveis,
em certos casos evidente e ligação com as unciais. O caso da Itália
reflete diferenças estéticas entre o norte e o sul da europa, onde essas
associações ficam evidentes.
A schwabacher ou bastarda, que originalmante era restrita a
documentos na região norte da europa, obtem seu status de importância na
França, quando começam a ser impressos alguns livros, paralelamante
também é utilizada na região da Bohêmia, Suiça e diversas regiões de
predomínio germânico. A Rotunda além da Itália é também muito utilizada
na Suiça. Para SHAW, Paul e Peter Brain, esses 4 estilos de
“blackletter” – Textura (gótica ), Rotunda ( semigótica), schwabacher e
Fraktur, compreedem a categoria. Para TUBARO, Antonio e Ivana todas são
classificadas de góticas.
A REFORMA
Quando no século XV Martin Lutero se revolta com a dominação de Roma e
da influéncia papal que dominava a europa, ele estava rompendo com
séculos de influência e subordinação cultural. Mais do que uma revolta
contra a igreja romana, ou a eliminação de um intercessor entre o homem e
Deus ele domostrava o interesse que a igreja falasse a língua de todos.
Lutero introduziu a massificação germânica, traduzindo do latin para o
alemão vários hinos, peças baseadas na reforma e iniciou a tradução da
bíblia. Além do texto em alemão que utilizava várais palavras em
dialetos específicos da Alemanha, ele também elegeu os tipos góticos
para expressar suas indignações.
O IDIOMA COMO EXPRESSÃO DE UM POVO
A questão sobre a própria identidade acompanhou durante séculos a
vida dos alemães. É óbvio que existem diferenças claras entre a
discussão e a afirmação de uma identidade e do uso político dessas
questões como forma de manipulação. Essa noção de valorização e de
grandiosidade do povo alemão é expressada na frase do poeta nacionalista
Ernst Moritz Arndt, que diz “a Alemanha está onde se fala alemão”, ou
seja, a grande aAlemanha incluía regiões que não eram alemãs como a
Bohemia, Polônia, França, Luxemburgo, Suiça e até regiões de colonização
mais longinquas como o proóprio Brasil. Esse ponto de vista mostra
certa similaridade com o próprio idioma Grego, que identificava um povo,
indo além das fronteiras pré-estabelecidas.
A partir do final do século XIX as fundições alemãs aumentam
consideravelmente a produção de tipos góticos com diferentes desenhos.
Mesmo artistas art-nouveau de importância como Peter Behrens e Otto
Eckmann desenharam tipos baseados na Fraktur. A reafirmação da soberania
do povo alemão de certa forma sempre buscou sua representação na gótica
Fraktur. Foi assim quando o exército de Napoleão foi parado pelas
tropas alemãs, ou na guerra franco-prussiana de 1870, na 1 guerra
mundial e por último quando Hitlet potencializoua força da tipografia
Fraktur a serviço do estado totalitário nacionalista. De tempo em tempo a
gótica e em especial a Fraktur foi politizada como “o tipo da
Alemanha”. Alguns estudiosos acham que os nazistas acabaram tirando a
vida dos tipos góticos, quando os associaram com o nazismo.
(...)
A tipografia gótica é um dos símbolos do povo germânico e assim como ela inúmeras outras contém essa importante carga de simbolismo. Logicamente o assunto desse artigo é inesgotável, até porque a relação do povo alemão com a tipografia gótica não acontece da noite para dia, mas é uma evolução e uma maturação que caminha por séculos e séculos, onde aspectos tecnológicos, culturais e políticos determinam sua trajetória. Porém ao mesmo se torna oportuno em um momento que cada vez mais tentamos desvendar o que cerca a construção de marcas fortes, imagens ou identidades de instituições até mesmo nações.
TEXTURA
Característica mais pesada, de disposição extremamente rígida onde
traços repetidos verticais formam as letras com poucas diferencas
evidentes entre elas. A angulosidade é acentuada pela terminação em
forma de diamante na parte superior.
SCHWABACHER OU BASTARDA
Tinham uma caracterîstica mais cursiva, onde era utilizada como
caligrafia popular. Sua estética deriva muito da necessidade de escrita
mais funcional e de execução muito mais rápida e ágil, rompendo a rígida
verticalidade da Textura e suavizada com ornamentações e traços curvos.
FRAKTUR
A Fraktur é uma fusão entre a Textura e a Schwabacher, com uma
influência da estética barroca, denotada pelos ornamentos aplicados às
letras maiúsculas e a união entre traços retos e curvos de sua forma.
ROTUNDA
A tipografia gótica italiana tem em sua forma estética uma
proximidade muito grande com os tipos unciais, devido ao aspectos mais
curvo e arredondado que tornam as letras mais amplas e legíveis.
BIBLIOGRAFIA:
TUBARO, Antonio e Ivana – Tipografía – estudios e iventigaciones. Universidad de Palermo/Libreria Técnica CP67, Milão-1992
TUBARO, Antonio e Ivana – Tipografía – estudios e iventigaciones. Universidad de Palermo/Libreria Técnica CP67, Milão-1992
BAIN, Peter and Paul Shaw – Blackletter: Type and National Identity.
The Cooper Union and Princetow Architetural Press, New York -1998
STRAUB, Ericson – A tipografia no meios editoriais de Curitiba – Dissertação de Mestrado – UFSC – PPGE-2003
via: http://abcdesign.com.br
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